quarta-feira, 20 de junho de 2012

Rio+20: pode o capitalismo esverdear a si mesmo?

Ailton Dias

O tema central que dominou a conferência Rio+20, desde a sua preparação até sua finalização na última semana, foi a perspectiva de uma transição da economia global predatória dos recursos naturais para uma “economia verde”. O termo parece vago e superficial mas a sua proposta de fundo é relativamente simples: o sistema econômico atual elevou sobremaneira os níveis de bem estar, riqueza, produção e consumo de uma vasta parcela da população do planeta. Obviamente existem muito efeitos colaterais, a exemplo da degradação ambiental em proporções nunca imaginadas. Mas a crença predominante nos debates oficiais é de que é possível fazer ajustes no sistema, corrigir suas imperfeições e distorções por meio de investimentos e da adoção de parâmetros e critérios de sustentabilidade ambiental e social.

Isso implica em continuar produzindo e consumindo em escalas cada vez maiores, já que o modelo econômico vigente pressupõe o crescimento incessante e ininterrupto. Ao mesmo tempo, implica em adotar medidas de proteção ambiental em escala global. Essa seria a mágica de uma economia verde. A tarefa dos formuladores – embaixadores, representantes de governos e de agências das Nações Unidas – seria de criar e implementar os mecanismos formais, os acordos multilaterais de escopo amplo e, principalmente, o arranjo financeiro rumo a esta nova economia. No cômputo geral dos debates as questões que ficam são do tipo: quem paga a conta da transição rumo à economia verde? Que mecanismos e políticas vão permitir a compatibilização entre as metas de desenvolvimento dos países e a sustentabilidade ambiental? Como fica a questão da desigualdade?

Em meio ao calor dos debates os atores pareciam não notar uma ausência fundamental: a do grande capital. Afinal, o sistema econômico do qual tanto se fala é o capitalismo em sua fase mais avançada. Foi o avanço ininterrupto desse sistema que levou o mundo ao ponto em que está: à beira de um colapso ambiental e social. Mas no momento de assumir compromissos com o futuro comum da humanidade são os Estados, e em última instância os governos, os entes chamados para debater e escrever um documento a título de protocolo de intenções.

O fiasco da Rio+20 mostra que governos e instituições multilaterais podem ser bons porta-vozes do capital, ou não. Isso depende da conveniência de parte a parte. Nesse caso, os governos não estavam em condições de assumir compromissos sérios em nome do grande capital. Mas quem estaria em condições de faze-lo? Eis ai uma questão de fundo para se pensar o desafio da governança global numa conjuntura de crise ambiental, econômica e social.

Já na Cúpula dos Povos e nos demais eventos paralelos à Rio+20, se descortinou uma enorme variedade de experiências e de proposições alternativas ao colapso ambiental feitas a partir da sociedade civil. Elas tentaram imprimir suas preocupações e propostas no documento oficial ou pelo menos criar constrangimentos ao avanço da exploração capitalista em seus locais de origem. São depositárias das esperanças em relação ao futuro comum. Mas, no contexto atual, a própria esperança parece ter se tornado uma mercadoria, instrumentalizada pelo capital sob o rótulo de economia verde.

Enquanto se desenrolavam os debates na Rio+20, nos campos de golfe do hemisfério norte os operadores das finanças globais e das grandes corporações transnacionais aproveitavam o verão tendo outras preocupações em mente. O capitalismo é um sistema autoreferenciado, regido por suas próprias dinâmicas e necessidades. Um autômato global impenetrável às preocupações humanas. Querer esverdeá-lo, como querem os arautos da economia verde, é uma coisa. Se ele, o capitalismo, vai se esverdear a si mesmo é outra bem diferente.

Nesse quadro, é imperativo estabelecer linhas de comunicação com o grande capital e perguntar, afinal, o que ele pretende fazer de si mesmo. Seria uma maneira de não alimentar falsas ilusões em relação ao futuro e de encarar a crise planetária numa perspectiva mais realista. Nessa lógica, o fracasso da conferência oficinal na Rio+20 também representa um convite para se repensar as estratégias do movimento socioambientalista e para se buscar novas formas de ativismo que sejam mais efetivas e transformadoras.

terça-feira, 19 de junho de 2012

A Plataforma BNDES e a nova centralidade do Banco

Resumo: Em sua última reunião geral, ocorrida na Escola Florestan Fernandes em junho de 2011, as organizações que compõem a Plataforma BNDES reafirmaram que “a crítica ao padrão de financiamento do BNDES que sustenta o modelo de desenvolvimento em curso é o ponto central de unificação da Plataforma”. Após os cinco anos de atuação, as questões levantadas pela Plataforma não apenas permanecem justas e necessárias, mas ganharam um sentido de urgência dada a escala alcançada pelo BNDES no financiamento ao desenvolvimento e dada as resistências do Banco, ainda muito fortes, em se abrir a um debate mais amplo na sociedade.

domingo, 17 de junho de 2012

Presença de centrais e sindicatos no mercado financeiro: criação e gestão de fundos de pensão :: N.E.S.P.O.M

Maria A. Chaves Jardim


Resumo


O texto aborda o interesse de sindicatos e centrais sindicais pela criação e gestão de fundos de pensão no Brasil, durante o governo Lula, apontando as justificativas e crenças criadas pelos sindicalistas engajados nessa estratégia. Conclui que até o momento atual (fim do governo Lula), os fundos sindicais não foram efetivamente consolidados pelo governo, mas que sindicalistas ocupam postoschaves no mercado financeiro e na gestão de fundos de pensão de patrocínio público, tais como Previ e Petros, infl uenciando direta e indiretamente nas configurações precisas do capitalismo contemporâneo brasileiro.

Palavras-chave


Fundos de pensão; Sindicatos e sindicalistas; Governo Lula; Economia social

quarta-feira, 6 de junho de 2012

De volta à mão visível: os desafios da Segunda Cúpula da Terra no Rio de Janeiro (Rio 20), artigo Ignacy Sachs | Portal EcoDebate

Em junho de 2012, o Rio de Janeiro sediará, pela segunda vez em vinte anos, a Cúpula da Terra das Nações Unidas, uma homenagem ao papel de liderança exercido pelo Brasil na busca de estratégias de desenvolvimenmento socialmente includentes1 e ambientalmente saudáveis, tanto em âmbito nacional como em global. O Brasil e a Índia são dois possíveis “Abre-alas” do bloco de países emergentes, fadado a desempenhar papel cada vez mais importante no sistema das Nações Unidas, desde que consigam estabelecer uma agenda comum, talvez sob coordenação do Ibas – o Fórum Índia-Brasil-África do Sul, criado em 2003. Um tanto paradoxalmente, os problemas da Zona do Euro e as lutas políticas internas nos Estados Unidos dão aos países emergentes a oportunidade de afirmarem-se como protagonistas importantes nas Nações Unidas. (...)